Esquema de corrupção na Câmara durou oito anos e só parou com prisões

na Operação Cifra Negra, por oito anos, empresários, servidores e vereadores sangraram os cofres públicos

20 FEV 2019Por Elda Braga/internet00h00

O esquema de corrupção na Câmara de Vereadores de Dourados, descoberto no final de 2018 na Operação Cifra Negra, por oito anos, empresários campo-grandenses, servidores e vereadores da segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul sangraram os cofres públicos. A informação consta da denúncia oferecida pelo Ministério Público contra 14 pessoas.

Em 57 páginas, os promotores detalham a atuação dos vereadores Idenor Machado (PSDB), Pedro Pepa (DEM) e Cirilo Ramão (MDB), do ex-vereador Dirceu Longhi (PT), dos então servidores da Câmara Amilton Salinas e Alexsandro Oliveira de Souza e oito empresários da Capital.

Idenor presidiu a Câmara em seis dos oito anos de existência do esquema de fraude em licitações para contratação das empresas de tecnologia a preço superfaturado em troca de “mesadas” a vereadores e assessores.

Segundo o MP, todas eram empresas controladas pelo grupo Quality que se uniam para disputar licitações e se revezavam como vencedores. Outras quatro empresas foram investigadas, mas não existe ainda prova do envolvimento delas e de seus sócios no esquema elícito.

A propina aos vereadores e servidores, conforme a denúncia, era para garantir a celebração e prorrogação dos contratos, sempre com preços exorbitantes.

Segundo a denúncia do MP, a investigação encontrou na sede da Quality em Campo Grande os controles de pagamento a vereadores e assessores.

Amilton Salina, então diretor financeiro da Câmara, nomeado em cargo de confiança por Dirceu Longhi, recebia R$ 1 mil por mês, depositados na conta bancária da mulher dele.

O MP descobriu seis depósitos nesse valor em benefício do ex-servidor, que antes da operação já estava condenado por peculato, falsidade ideológica e formação de quadrilha em outro escândalo na Câmara, a chamada “Máfia dos Consignados”.

Na conta de Alexsandro, então diretor administrativo da Câmara e braço direito de Idenor Machado, a Cifra Negra descobriu 12 depósitos feitos pela Quality, totalizando R$ 53,6 mil. Os depósitos eram sempre inferiores a R$ 10 mil, para fugir do controle do (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).

Entretanto, conforme a denúncia, o valor feito em depósito não é nem de longe o montante pago ao então assessor de Idenor Machado.

Por várias vezes, Alexsandro foi até Campo Grande pegar a propina das mãos de Denis da Maia ou de Patrícia. Em uma só viagem foram R$ 21 mil. O ex-assessor ficava com R$ 2 mil de cada viagem.

Após Alexsandro ser exonerado, a função foi assumida por Cirilo Ramão, que assim como Idenor voltou a ser preso na semana passada. 

Conforme a denúncia do MP, a propina paga à Mesa Diretora da Câmara variava de 10% a 15% do valor do contrato. Depois que Idenor deixou a presidência, o esquema continuou sendo tocado por Cirilo e Pedro Pepa, então primeiro-secretário da Câmara.

Pepa planejava assumir a presidência da Casa no biênio 2019/2020, mas foi preso dois dias antes da eleição. Cirilo também fazia parte da chapa. Eles e Idenor estão afastados dos mandatos por ordem judicial e enfrentam processo de cassação por quebra de decoro.

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