Fruta-símbolo de Mato Grosso do Sul graças a um projeto do deputado estadual Renato Câmara (MDB), sancionado pelo governador Reinaldo Azambuja (PSDB), a guavira é o tema central de eventos esta semana focalizando sua importância e os meios para garantir sua preservação.
Uma das mais saborosas iguarias da flora frutífera do País e típica do cerrado, a guavira (Campomanesia spp) chegou a ficar ameaçada de desaparecer em Mato Grosso do Sul por causa da expansão indiscriminada da agricultura e do desmatamento. Extinta em alguns municípios onde já foram abundantes, ela ainda resiste e pode ser preservada, crê Renato Câmara, autor da lei 5.082/2017, que a oficializou como fruta símbolo do Estado.
Para garantir a sobrevivência da espécie, vários esforços estão acontecendo, Um dleles é o I Seminário “Conservação, Sustentabilidade e Potencialidades”, que a Assembleia Legislativa, a Fundação Oswaldo Cruz, a Agência Desenvolvimento Agrário e Rural (Agraer) e a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) realizam quinta e sexta-feiras (12 e 13) deste mês. O anfiteatro do Complexo Multiuso Dercir Ribeiro, da UFMS, é o cenário do evento.
“Nosso objetivo é transformar o evento em um marco para a cadeia produtiva da guavira no Estado. A fruta é genuinamente sul-mato-grossense e a intenção é apresentar um panorama das suas potencialidades e da importância desta fruta nativa”, assinalou o deputado. Para ela, será uma oportunidade valiosa de abrir uma alternativa real, com vários setores da sociedade, com o propósito de desenvolver uma nova fonte de renda para pequenos produtores.
A pesquisadora Ana Cristina Ajalla, do Cepar (Centro de Pesquisa e Capacitação da Agraer), aposta que o seminário será um marco nos estudos da guavira por reunir, em um mesmo local, pesquisadores e profissionais que comercializam de alguma forma o fruto. “A guavira faz parte da nossa cultura, da cultura indígena do nosso Estado e dos hábitos dos nossos avós que saiam de suas casas para colhê-la”, acentua. Há 10 anos a Agraer trabalha com uma pesquisa em torno da guavira – “e, agora, será a oportunidade de reunir várias instituições que também estão desenvolvendo pesquisas com o intuito de unificar as nossas ações”, acrescenta.
CELEBRAÇÕES – Manifestações artístico-culturais e eventos gastronômicos dão à fruta, nos últimos anos, uma atenção bem mais forte e efetiva, com apelos por seu sabor, à variedade da culinária que a utiliza em doces, bebidas e bolos e à mística que existe entre sua associação aos costumes nativos. É também um tema de referência sobre a devastação da flora nativa provocada pela agricultura extensiva.
Em Bonito, há quase 20 anos acontece o Festival da Guavira, mesclando atrações que vão das artes plásticas e literárias à musica, teatro, dança e gastronomia, com a produção de deenas de comidas e bebidas preparadas com a fruta.
Em 1980, o então deputado estadual e jornalista Sérgio Cruz escreveu uma letra para denunciar o desmatamento e a ameaça à flora original do cerrado, tomando a guavira como símbolo. A melodia foi composta pelo músico Simona. Os autores, porém, não a inscreveram no Festão (um dos maiores festivais de música da história de Mato Grosso do Sul) e a canção até hoje não foi gravada. Eis um trecho:
GUAVIRAIS (Letra: Sérgio Cruz Música: Simona)
A praga de aço invadiu o cerrado
E cometeu sua devastação
O meu sertão está muito mudado
Com arroz e soja em qualquer direção
(Refrão):
E os guavirais já não florescem mais
E os guavirais já não florescem mais
Querem botar mais comida na mesa
E não fazem do jeito mais certo
Desrespeitando a mãe natureza
E transformando tudo num grande deserto
(Refrão):
E os guavirais já não florescem mais
E os guavirais já não florescem mais