Wilson Martins antevia avanços e riscos com evolução cibernética

Ex-governador, que morreu aos 100 anos, tinha desejo de enfrentar Pedrossian nas urnas

13 FEV 2018Por Rádio Jota FM/Edson Moraes14h35

O ex-governador Wilson Barbosa Martins morreu na manhã desta terça-feira, 13, aos 100 anos. Uma das mais emblemáticas personalidades da história política no País, tinha privilegiada visão conjuntural. Não realizou uma de suas vontades, enfrentar nas urnas o tradicional adversário Pedro Pedrossian, que morreu no ano passado. Mas com anos de antecedência anteviu, entre outros momentos históricos, a faceta perversa dos avanços cibernéticos.

Ele faria 101 anos no dia 21 de junho, mas problemas cardíacos associados aos impactos orgânicos da idade avançada não permitiram. Wilson Martins viveu, porém, intensamente os desafios que contemporâneos e posicionava-se sempre além do seu tempo. Discreto, sereno, sagaz, e abastecido de amplos conhecimentos gerais, recusava-se a ser tratado como um emblema. Porém, era emblemático. Naturalmente.

Em 1995, recém-investido pela segunda vez do cargo de governador, após uma entrevista ao jornalista Edson Moraes, confidenciou a vontade de enfrentar nas urnas seu “eterno” rival Pedro Pedrossian. Sempre pensando bem antes de sua fala pousada e solene, com frases cirúrgicas, revelou admiração pelo desassombro de Pedrossian, porém associando-o a práticas nada republicanas.

Martins reconhecia, no entanto, qualidades inatas do adversário. Disse que Pedrossian havia garantido lugar destacado na história das grandes lideranças políticas do Estado e enfrentá-lo numa disputa eleitoral seria honroso para si, além de dar à sociedade uma oportunidade de decidir qual o modelo de governo desejava. Esse duelo nunca aconteceu diretamente.

Por via indireta, Martins ou candidatos apoiados por ele foram vitoriosos na maioria das vezes em que wilsistas e pedrossianistas se enfrentaram nos embates governamentais. Em 1986, nas primeiras eleições diretas de Mato Grosso do Sul, WBM bateu José Elias Moreira, o ungido de PP. Em 1990, Pedrossian atropelou Gandi Jamil, que era do PDT e tinha apoio de Wilson. Em 1994, WBM deu o troco e derrotou Levy Dias, indicado por Pedrossian. Em 1998 Martins lançou Ricardo Bacha contra Pedrossian e ambos foram superados por Zeca do PT. Bacha ainda chegou no segundo turno.

Wilson Martins afirmava, naqueles meados de 1990, que a evolução da tecnologia era necessária e precisava dar respostas eficientes para a humanização dos sistemas de gestão e melhorar a convivência entre as pessoas, reduzindo as distâncias, dando transparência aos atos de poder e democratizando o acesso de toda a sociedade à informação e ao conhecimento. Mas vislumbrava outro lado da moeda, o risco de uma “involução” com o estabelecimento de um fenômeno de exagerada praticidade que poderia tornar as relações humanas previsíveis e quase impessoais. Tinha razão. Era um típico exemplo de gente que vive à frente de seu tempo.

Quase duas décadas antes da explosão mundial das redes sociais e da febre das relações digitais ele, um político moderno e visionário, já intuía que a modernidade poderia reduzir a importância e as chances da conversa olho no olho e da convivência presencial entre os humanos.

VOCAÇÃO - O currículo de WBM é um dos mais ricos da historiografia política do Brasil. Natural de Rio Brilhante, onde nasceu em 21 de junho de 1917. Tinha somente 22 anos quando se formou em Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco e desde jovem já vivia nos ambientes engajados em lutas democráticas, populares e por direitos humanos.

Ingressou de vez na política quando, de volta ao seu Estado e morando em Campo Grande, casou-se com Nelly Martins, filha do ex-prefeito, ex-senador e divisionista Vespasiano Martins. Ajudou a fundar a UDN e em 1946, em sua primeira incursão eleitoral, perde a disputa para Ari Coelho de Oliveira. Na gestão de Fernando Corrêa da Costa, torna-se secretário da Prefeitura. Em 1958 vence as eleições e torna-se prefeito.

Seu mandato foi tão bem-sucedido que quatro anos depois conquista uma cadeira de deputado federal. E com atuação reconhecida em todo o país, participa da fundação do MDB e enfileira-se entre os principais líderes na resistência à ditadura militar imposta em 1964. Por causa disso, teve o mandato cassado, perdeu os direitos políticos por 10 anos e dedicou-se mais à advocacia.

Eleito presidente da seccional da OAB, cumpriu seu tempo de suspensão política e voltou à cena presidindo o MDB (depois PMDB), candidatando-se a governador e vencendo as eleições em 1982. Em 1986 se elegeu senador e voltou ao governo nas eleições de 1994. Concluiu seu mandato em 1998 e deixou definitivamente a atividade política.

POLÍTICA NO SANGUE - Wilson Martins era irmão do ex-prefeito e ex-deputado federal Plínio Martins, que morreu em 1998; pai da ex-deputada estadual e ex-conselheira do Tribunal de Contas Celina Martins Jallad (morta em feveiro de 2011); e tio do advogado e ex-vereador Marcelo Barbosa Martins. Vivia em casa, sob os cuidados da filha Thaís e outros familiares mais próximos. Havia sofrido graves problemas de saúde, com internações hospitalares, mas era resistente e manteve a sua lucidez até os últimos dias. 

Sua morte, por volta das 6h de hoje, repercute em todo o País e está sendo lamentada por lideranças políticas e sociais nos diversos estados. Seu corpo stá sendo velado no Centro de Convenções Rubens Gil de Camillo e o enterro será às 10h de amanhã (quarta-feira, 14), no Parque das Primaveras.

 

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