USP reprova vermífugos em testes de laboratório

Para chegar às conclusões, os cientistas utilizaram uma técnica chamada triagem fenotípica

14 JUL 2020Por Wander Ferreira16h16

Um estudo da Universidade de São Paulo (USP) chegou à conclusão que vermífugos não são boas respostas para o tratamento da Covid-19. A ivermectina e a nitozaxanida – princípio ativo do Anitta-, são medicações que ganharam destaque no Brasil depois que alguns estudos laboratoriais sugeriam grande eficácia na eliminação de carga viral.


“Nossos resultados sugerem que essas drogas são pouco específicas e não atendem aos critérios necessários para testes in vitro com modelos animais”, diz o biólogo Lucio Freitas Junior, coordenador da Plataforma de Triagem Fenotípica do Instituto de Ciências Biomédica (ICB) da Usp.

Isso porque, segundo a equipe, os vermífugos combatem o vírus ao mesmo tempo que destroem as células infectadas. Eles afirmam que seguindo os parâmetros modernos de desenvolvimento de drogas já excluiria essas medicações dos testes com seres humanos.

“Se o vírus depende da célula, e você afeta a célula, é claro que vai afetar o vírus. Mas não adianta matar o vírus se você mata o hospedeiro junto”, explica Freitas. “Seletividade é essencial.”

Outra droga que ganhou alta popularidade, e faz partes dos coquetéis de tratamento ao covid-19, é a Hidroxicloroquina. Inicialmente, ela, de fato, se mostra altamente eficaz e seletiva contra o SARS-CoV-2 em ensaios in vitro. No entanto, estudos clínicos demonstram que ela não é efetiva no organismo humano, além de carregar o risco de efeitos colaterais graves para alguns pacientes.

Em nota à imprensa, os pesquisadores afirmam que “redirecionar o uso de uma droga já existente para o tratamento de uma outra doença é bem mais simples do que desenvolver um medicamento novo do zero, mas não deixa de ser um caminho longo, complexo e repleto de incerteza”.

Metodologia

Para chegar às conclusões, os cientistas utilizaram uma técnica chamada triagem fenotípica. Primeiro as células são infectadas como o vírus em questão em várias dosagens. Depois, os medicamentos são aplicados em laboratório para comprovar a eficácia por meio de imagens de microscopia e moléculas fluorescentes.

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Outros agentes também foram testados, 65 para ser mais preciso. Duas medicações apresentaram resultados animadores. Brequinar e acetato de abiraterona foram os grandes vencedores desta primeira etapa. De todo os medicamentos, as duas substâncias são as mais indicadas para passar para os testes com seres humanos.

O brequinar ainda não está no mercado, mas é amplamente testada pela indústria farmacêutica como antitumoral e antiviral. A outra medicação é utilizada no tratamento do câncer de próstata.

O estudo laboratorial tem 10 autores, incluindo colaboradores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e de outras duas unidades da USP: Instituto de Biociências (IB) e Instituto de Física de São Carlos (IFSC).

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