Em um cenário que destaca a importância da inclusão e respeito à diversidade de identidades de gênero, a história de Caio Aparecida Pereira dos Santos, um auxiliar administrativo que está grávido de sete meses, revela desafios significativos no acesso aos cuidados de saúde na rede pública de Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
Caio, homem trans que sempre sonhou em ser pai, planejou cuidadosamente sua gestação. No entanto, ao buscar atendimento médico na rede de saúde pública local, encontrou-se em meio a um labirinto de burocracias e desafios.
O primeiro obstáculo surgiu quando Caio retificou seu gênero para "masculino" em todos os seus documentos pessoais, incluindo a certidão de nascimento. Ao buscar atendimento no Hospital Universitário, um importante centro médico na região, Caio foi surpreendido pela rigidez do sistema de regulação da Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande (Sesau). O sistema, aparentemente inflexível, não permitia que Caio realizasse os exames de pré-natal no hospital, alegando que o serviço estava disponível apenas para pessoas com gênero registrado como "feminino".
"Fui encaminhado do posto de saúde do bairro para o HU (Hospital Universitário) falando que seria mais fácil por ter um ambulatório trans. Chegando aqui, já na primeira consulta foi passado o ultrassom para eu fazer e quando fui agendar, disseram que não poderia agendar devido ao meu sexo estar masculino nos meus registros", relatou Caio.
O médico ginecologista e obstetra do HU, Ricardo Gomes, apontou ainda que o hospital já realizou exames, e até partos, de homens trans anteriormente, mas porque os gêneros deles ainda não estavam retificados nos documentos pessoais.
Leia a nota da Sesau na íntegra:
A Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) informa que o paciente em questão já está sendo acompanhado pela equipe da unidade de saúde de referência da região onde ele mora, tendo passado por três consultas de pré-natal e estando, também, em acompanhamento na rede de atenção psicossocial.
Essas três consultas pelas quais o paciente passou foram em um intervalo de quatro dias, sendo atendido por uma enfermeira, um médico e um ginecologista. Tendo em mente o histórico de saúde do paciente, a equipe também já o direcionou para atendimento no hospital universitário, assim será acompanhado por um especialista de forma mais intensa.
Sobre a regulação do paciente, esta acontece normalmente, contudo, pelo fato de seu nome social ser diferente do registrado em CPF, é necessário que a equipe da secretaria realize o lançamento e autorização do procedimento de forma manual, uma vez que o Sisreg, que é de competência ministerial, ainda não está atualizado para esta necessidade, de toda forma, o atendimento é garantido.
Mesmo apresentando documentação com nome masculino, o paciente não tem impedimento nenhum para realizar o pré-natal.
CRÉDITO: G1 / AGITOS MUTUM