Aproveitamento integral da tilápia movimenta diversos setores da economia em Mato Grosso do Sul

20 JAN 2020Por Mireli Obando06h03

Campo Grande (MS) – Mato Grosso do Sul está mais uma vez no topo do ranking dos estados que mais exportam carne de peixe para outros países, sendo o responsável pelo envio de 901 toneladas para o mercado externo no ano passado. O que muita gente não sabe, é que o filé representa apenas 30% do pescado, e que o aproveitamento dos outros 70% do peixe, evita o desperdício, promove a sustentabilidade ambiental, e movimenta a economia.  

O processo de filetagem em grande escala, resulta numa grande quantidade de resíduos, composto de ossos, nadadeira, vísceras, cabeça e pele. Denominado subproduto, esse material tem destinação diversa, podendo se transformar em farinha, ração, artesanato e até usado para fins medicinais.

O frigorífico Geneseas, em Aparecida do Taboado, por exemplo, faz o aproveitamento integral do material gerado. O aumento na produção de filé de tilápia nos últimos dois anos, também ampliou a produção de óleo, farinha e pele. Segundo a empresa, todo volume gerado é comercializado não só no Brasil, mas também exportado para EUA, Japão e Taiwan.

Com uma produção mensal de 70 toneladas, a Cooperativa dos Piscicultores de Mundo Novo (Coopisc), fornece o material para duas finalidades distintas. “Parte da pele vai para Associação Art Fish, que produz artesanato, e o excedente vai para indústria farinheira”, conta o presidente, Patrick Rierrard. Formada por um grupo de mulheres que transformam a matéria prima em artesanato, a Arts Fish existe desde 2004, e já participou de diversas feiras, inclusive de outros estados, com a venda de peças confeccionadas da pele de peixe, como chaveiros, bolsas, carteiras, agendas e até brincos. 

O tratamento e descarte adequados desses subprodutos, não só gera emprego e renda, mas também protege o meio ambiente. O diretor-presidente do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), André Borges, explica a importância desse reaproveitamento. “O que antes era um rejeito, hoje é um subproduto, que passa por um processo de industrialização, e depois é comercializado. Não está mais indo para aterro, ou para a lagoa de tratamento para depois ser lançado. Ele está voltando para o processo produtivo de alguma forma e tendo a destinação adequada. Isso é um ganho ambiental muito grande”, pontua.

Sobre o potencial de Mato Grosso do Sul, o secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar, Jaime Verruck, avalia que os resultados são fruto de uma política de desenvolvimento para atrair empresas ao Estado. “Nos últimos anos investimos no aumento da piscicultura por acreditar na importância de diversificar a economia e temos bons resultados, que demonstram um setor estruturado, forte e com potencial para continuar crescendo”, afirma.

Uso medicinal

No exterior, a pele de tilápia – rica em colágeno, resistente e elástica – já é utilizada na recuperação de queimaduras. No Brasil, o uso do material para tratamento de queimados está em fase de avaliação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A técnica é considerada simples, barata, menos dolorosa, e acelera o processo de cicatrização em queimaduras de diferentes níveis.

Desenvolvida pelo médico pernambucano Marcelo Borges, e em fase experimental em alguns estados brasileiros, a pesquisa foi apresentada ao ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, no ano passado. A expectativa e que após receber a licença definitiva da Anvisa, o método possa ser utilizado em toda rede SUS.

 

Mireli Obando, Subsecretaria de Comunicação (Subcom)

Foto: Arts Fish (Mundo Novo)

Deixe seu Comentário

Leia Também