Corpo de Bombeiros destaca importância da saúde mental e desafios nos atendimentos

Ocorrências, alertas e orientações do Corpo de Bombeiros com Cb Alan.

01 MAI 2025Por Evandro Silva 10h27

Durante participação no programa Ronda da Cidade neste feriado, o cabo Alan, do Corpo de Bombeiros de Sidrolândia, trouxe um importante alerta sobre os cuidados com a saúde mental e o papel dos bombeiros nos atendimentos a vítimas em crise psicológica.

O destaque da conversa, no entanto, foi para os atendimentos psiquiátricos. Alan explicou que, na maioria das vezes, os sinais de sofrimento mental já são perceptíveis por familiares e amigos, mas ainda há muito preconceito em relação ao tratamento. “As pessoas ainda acham que procurar ajuda é frescura. Mas a cabeça precisa de manutenção assim como o corpo. Pressão social, rotina acelerada, estresse… tudo isso afeta a mente, e a gente precisa normalizar esse cuidado”, enfatizou.

Como identificar uma crise?

De acordo com o bombeiro, uma crise pode se manifestar de várias formas: isolamento, mudança brusca de comportamento, agressividade ou até tentativa de suicídio. “Cada pessoa reage de uma maneira diferente. O que não pode é ignorar os sinais”, alertou. Ele também chamou atenção para o fato de que, muitas vezes, a vítima não consegue pedir ajuda. “A responsabilidade recai sobre quem está por perto. A família precisa estar atenta.”

Desafios jurídicos e limites de atuação

Um dos pontos mais delicados abordados por Alan foi o limite da atuação dos bombeiros em casos psiquiátricos. Ele explicou que, se a pessoa em crise não quiser ser levada ao hospital e não estiver colocando em risco a própria vida ou a de terceiros, os socorristas não podem obrigá-la a ir. “A gente precisa garantir segurança jurídica. Só com laudo médico ou decisão judicial podemos fazer uma internação à força”, detalhou.

O bombeiro destacou ainda que, em algumas situações, é necessário conter fisicamente a vítima para evitar que ela se machuque ou machuque os outros — o que exige preparo técnico e muito cuidado, tanto com a vítima quanto com a família. “É difícil para a família entender que, às vezes, precisamos conter alguém que amam. Mas é por segurança”, afirmou.

Relação entre saúde mental e álcool ou drogas

Alan revelou que grande parte das ocorrências psiquiátricas em Sidrolândia está ligada ao uso de álcool ou outras drogas. Mesmo assim, os atendimentos da última semana foram considerados mais tranquilos. Em três dos quatro casos, os bombeiros conseguiram convencer os pacientes a aceitarem ajuda. O quarto caso envolveu uma tentativa de suicídio por ingestão de medicamentos. A vítima foi socorrida a tempo. “Mas a gente lamenta que ninguém tenha percebido antes o sofrimento dessa pessoa”, desabafou.

Família: peça-chave no cuidado contínuo

Para Alan, o papel da família é fundamental não apenas para identificar sinais de alerta, mas também para acompanhar o tratamento após o surto. “Não é só levar para o hospital. Precisa de acompanhamento. E isso não é vergonha nenhuma”, reforçou. Ele defendeu que as conversas sobre saúde mental sejam normalizadas em casa e em rodas de amigos, assim como se fala de uma gripe ou uma dor de cabeça.

Prevenção como prioridade

Ao final da entrevista, Alan lembrou que o Corpo de Bombeiros trabalha diariamente para evitar que os atendimentos cheguem ao extremo. “Nosso sonho é não precisar atender ninguém. Que tudo seja resolvido na prevenção, com cuidado, escuta, acompanhamento e amor”, concluiu.

A entrevista foi um chamado importante à reflexão sobre como a saúde mental deve ser tratada com a mesma seriedade que qualquer outro problema de saúde — e sobre como cada um pode ser um elo fundamental na corrente de apoio a quem precisa.

 

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