MS se mantém como o Estado com menos casos, mas Covid-19 avança

Avanço da doença quase dobrou a média diária de casos em uma semana

15 MAI 2020Por Wander Ferreira10h07

Mato Grosso do Sul é o estado brasileiro com o menor número de casos registrados da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, e a menor incidência por 100 mil habitantes do País. Entretanto, já é possível perceber um aumento exponencial no número de casos esta semana em comparação com os dados apresentados nos sete dias anteriores.


Do dia 4 ao dia 10 de maio, período referente aos sete dias da semana passada (segunda a domingo) foram registrados 90 casos novos da Covid-19 em Mato Grosso do Sul. De segunda a quinta-feira deste semana (entre os dias 11 e 14) foram registrados os mesmos 90 casos, só que em quatro dias.
O avanço da doença quase dobrou a média diária de casos em uma semana: passou de 12,8  para 22,5 casos novos por dia.  
Nesta semana também houve um número maior de mortes. Enquanto nos sete dias anteriores apenas uma pessoa veio a óbito por causa do novo coronavírus, entre segunda e quinta-feira já foram duas mortes.
Para o médico infectologista, professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Julio Croda, isso indica que o Estado começou a “respeitar” a velocidade de transmissão do vírus como em outras unidades da federação. “Dobrou o número de casos por dia no Estado. Essa semana quase todo dia foram 20 casos, e a tendência é ter mais de 20 para a próxima semana. Agora a velocidade está parecida com outros estados do País e deve duplicar na próxima semana. Se for seguir isso, vai chegar a 40 casos novos por dia no Estado”, avaliou.
MENOR INCIDÊNCIA

Até às 10h desta quinta-feira (14), MS contabilizava 452 casos confirmados do novo coronavírus, com 14 mortes. É o único estado do País com menos de 500 casos confirmados e o com o menor número de óbitos pela doença.
Segundo o infectologista, isso pode ser reflexo da velocidade com que a doença foi registrada em Mato Grosso do Sul no início da pandemia. “Quando a gente olha os números do Estado, é como se estivéssemos olhando uma foto mais do passado se comparado com outros estados, onde a velocidade foi maior que aqui”.
Croda avalia que dois fatores contribuíram para que essa velocidade fosse reduzida por aqui. “O primeiro é a densidade demográfica. O Estado tem uma população pequena e bem distribuída nas cidades. Mesmo a Capital não tem uma densidade muito grande. É uma cidade muito horizontal, com poucos prédios. A densidade é fator importante, é um fator de distanciamento social inerente, então a característica demográfica nesta doença favorece para um menor contágio”.
Outro ponto avaliado pelo pesquisador foi a rápida ação dos órgãos de saúde do Estado e da Capital, como o fechamento por 15 dias em Campo Grande dos serviços não essenciais. “Os serviços de saúde atuaram bem positivamente, isolaram casos e contatos, e isso fez com que aqui demorasse mais para ter transmissão comunitária. A velocidade foi menor no início porque o isolamento chegou a 50%, a 60%”, afirmou o médico.
A partir do momento em que ocorreu a flexibilização das medidas de isolamento social, houve também o aumento dos casos tanto na Capital como no interior de MS. Para o infectologista, a curva estava estabilizada antes da reabertura. “Depois da flexibilização houve aumento, e isso tem que ser acompanhado pelas autoridades de saúde, para identificar os casos e contatos precocemente; isso vai fazer a diferença”.
O secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende, também citou esses dois fatores – densidade demográfica e atitudes precoces – como sendo preponderantes para que Mato Grosso do Sul ainda esteja em um patamar abaixo do restante do País.
“Tomamos medidas que fizeram com que tivéssemos isolamento com taxa de adesão altíssima, implantamos barreiras sanitárias, drive-thru para fazer testagem, conseguimos construir parceria com municípios e, por isso, tivemos ações uniformes em todo o Estado”, avaliou o titular da Secretaria de Estado de Saúde (SES).
Sobre o aumento, Resende afirma que isso é reflexo da não colaboração de parte da população ou do afrouxamento de medidas. “População não tem cultura de aderir a recomendações da saúde pública. Essa ‘frouxidão’ pode fazer com que tudo isso [bons números] vá por água abaixo nos próximos dias. Se hoje temos certo controle, esse afrouxamento pode ser catastrófico”, avaliou.
Mato Grosso do Sul tem a menor incidência de casos do país, conforme dados do Ministério da Saúde. A taxa por 100 mil habitantes do Estado é de 16,3, enquanto a de mortalidade é de 0,5. O segundo estado com a menor incidência é o Paraná, com taxa de 18 casos e um óbito a cada 100 mil pessoas. Minas Gerais é o terceiro, com incidência de casos de 18,7 e mortalidade de 0,7.

 

CorreiodoEstado

Deixe seu Comentário

Leia Também