Taquigrafia: Conheça o trabalho silencioso de quem transforma diálogos em documento

29 JAN 2020Por Evellyn Abelha09h50

Palavra por palavra. Nada a mais, nada a menos. O trabalho do taquígrafo é este: anotar fielmente tudo aquilo que acontece durante os eventos dos quais participa. Na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS), esse profissional tem a incumbência de ouvir e transcrever todo e qualquer diálogo das sessões ordinárias e extraordinárias, além das reuniões solicitadas pela Mesa Diretora da Casa de Leis. Agilidade e ética são os condutores desta função que exige responsabilidade de quem a desempenha.

Taquígrafos anotam as falas para posterior transcrição

“O trabalho da taquigrafia começa antes mesmo do início do evento, já que o taquígrafo precisa se posicionar e acompanhar a reunião desde a primeira palavra dita na abertura dos trabalhos até o término”, explica o coordenador do departamento de Taquigrafia e Revisão da ALEMS, José Eduardo Fernandes de Campos. Papel e caneta na mão, é hora de escrever. Ao mesmo tempo em que anota aquilo que está sendo dito, um programa grava na íntegra o áudio da sessão. “Os taquígrafos acompanham o evento coletando as informações adicionais como nome completo e correto do orador e o momento em que ele falou”, detalha o coordenador.

Com esse material em mãos, o taquígrafo produz uma espécie de roteiro. Quando volta ao setor, o profissional faz a transcrição de tudo aquilo que ele presenciou, comparando o roteiro com o áudio gravado pelo programa. “Têm coisas que o áudio não pega e que têm que ser colocado, por exemplo, algo que foi falado fora do microfone. Até mesmo manifestações não-verbais que sejam relevantes para o contexto do evento são registradas”, esclarece.

José Eduardo também explica como a tecnologia mudou o trabalho dos taquígrafos. “O programa,  desenvolvido especificamente para o setor, nos ajudou muito, porque antes era muito mais complicado. Antes a gravação era por gravadores comuns. O gravador tinha que ficar no ouvido de quem estivesse transcrevendo. Com auxílio da tecnologia, facilitou muito”. O coordenador ainda informou que o programa agora passa por ajustes para que seja possível a transcrição automática do áudio em texto. “O que hoje é digitado, futuramente, passará a ser transcrito automaticamente pelo programa. Com isso o taquígrafo vai comparar as anotações que ele colheu no evento com aquilo que foi transcrito pelo programa”.

Adriano está na taquigrafia da ALEMS desde 2010

É comum ver na Casa de Leis os taquígrafos trabalhando em dupla. Isso porque a cada sete minutos há um revezamento entre todos os profissionais que compõem o setor de taquigrafia. Atualmente, dez taquígrafos desempenham a função na ALEMS. O cronômetro na mesa ajuda a controlar as trocas. 

Ocupando a função de taquígrafo na Casa de Leis, desde 2010, Adriano Lopes elenca algumas das habilidades fundamentais para exercer a profissão.” Temos que ser fiéis à fala, pois as informações vão se tornar um documento oficial. Tem que ser ágil, ter um ouvido perfeito e ser bom em digitação. Eu gosto desse trabalho, é emocionante. Exige muita responsabilidade, mas depois que você pega o trabalho pronto, é gratificante”, revela o servidor.

“Revisão é cultura”

Imediatamente após o taquígrafo comunicar que o texto está pronto, a digitação fica disponível para revisão. Os revisores comparam novamente o áudio com aquilo que foi transcrito e fazem as correções do texto - pontuação, ortografia, concordância, entre outros ajustes  - transformando os dados em um material que possa ser lido e compreendido. “Fazemos a revisão para que o material fique disponível de maneira que a pessoa que for ler - amanhã ou daqui a um ano - consiga compreender. Porque uma coisa é você ouvir ou assistir o que a pessoa falou, outra coisa é você ler. Se tiver uma vírgula fora do lugar, já muda todo o sentido”, destaca a revisora Adrianne Bertola Carvalho.

Adrianne trabalha na revisão dos textos produzidos pelos taquígrafos

Servidora da Casa de Leis há quase 30 anos, Adrianne enfatiza um dos maiores desafios no trabalho do revisor. “Trabalhamos com 24 parlamentares, cada um tem uma característica muito peculiar, então temos que corrigir, harmonizar, porém sem tirar a características dele. São diferentes estilos de oratória. Temos que corrigir sem mudar a essência do deputado, embora a linguagem de uma ata de assembleia legislativa seja formal”, disse.

São 12 anos desempenhando a função de revisora na ALEMS e Adrianne revela que mesmo depois de tantos anos de experiência continua a aprender com a profissão. “Todo dia revisando o português e tendo oportunidade de aprender sobre todos os assuntos, pois todos os temas que são debatidos aqui na Assembleia passam por nós. É muito rico, estamos sempre reciclando o conhecimento. Revisão é cultura”, frisa a servidora. Atualmente, a Casa de Leis conta com 12 revisores. 

Acesso à informação

Setor de revisão da Assembleia Legislativa

O coordenador da Taquigrafia e Revisão explica que o material produzido pelo setor de Taquigrafia e Revisão está disponível para os gabinetes parlamentares e paras as secretarias da Assembleia Legislativa que solicitarem. “O material taquigráfico é o registro incontestável de tudo aquilo o que acontece dentro da Assembleia. A taquigrafia já ajudou a esclarecer questões polêmicas. Nós sempre somos requisitados. Muito processos utilizam informações geradas pelas taquigrafia”, disse.

Ao público em geral, o acesso pode ser feito mediante requerimento à Secretaria de Assuntos Legislativos e Jurídicos. “Nem todos os dados podem ser disponibilizados, pois alguns são protegidos por lei”, reforça José Eduardo. O coordenador da Taquigrafia e Revisão afirma ainda que está em andamento um projeto para que as informações produzidas sejam disponibilizadas via internet, no site da Casa de Leis. “Esse é um projeto que estamos desenvolvendo, para que as informações estejam disponíveis sem que seja necessário requerimento”, explica.

Taquigrafia no Regimento Interno

O Regimento Interno da Casa de Leis também faz menção ao funcionamento e utilização dos serviços taquigráficos. Por exemplo, é prerrogativa do presidente da ALEMS determinar o não registro de discurso ou aparte, pela taquigrafia e serviço de gravação, quando antirregimental. Sempre que o presidente cassar a palavra a um deputado, será suspenso o apanhamento taquigráfico e desligado o serviço de alto falantes e gravação. 

Profissionais devem ter agilidade e serem fiéis aos diálogos

As notas taquigráficas relativas ao pronunciamento dos representantes de entidades deverão ser encaminhadas à comissão competente para exame e posterior publicação. Além disso, ao presidente de comissão compete determinar o registro taquigráfico dos debates, quando julgar necessário. Poderão ainda ser publicadas as exposições escritas e os resumos das orais, os extratos redigidos pelos próprios autores, ou as notas taquigráficas, se assim entender a comissão. Acesse aqui o Regimento Interno da ALEMS na íntegra.

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