O Declínio: Qualquer semelhança com os dias de Covid-19 não será mera coincidência

Coincidência ou não com os tempos de coronavírus e isolamento social, a cena é de um filme canadense produzido este ano, “O Declínio”.

11 ABR 2020Por Jota FM06h53

É um tempo apocalíptico para a humanidade. Num canal de TV o apresentador ensina técnicas de como armazenar arroz em um plástico, amassando-o depois com um ferro quente de passar roupas. Dois telespectadores, pai e a filha de seis ou sete anos, sem olhar para o aparelho, fazem o mesmo no apartamento. O pai repete as cenas da TV e pergunta a filha o que significa tudo aquilo. Ela responde que estão guardando comida para o caso de uma grave crise econômica, uma epidemia ou outra calamidade que afete a sobrevivência das pessoas.

            Coincidência ou não com os tempos de coronavírus e isolamento social, a cena é de um filme canadense produzido este ano, “O Declínio”. Disponível nos destaques da Netflix, a obra parece ter sido feita para retratar dramas contemporâneos relacionados às crises social e econômica causados pela pandemia do Covid-19. O desabastecimento e a luta pela sobrevivência com pessoas que acabam criando conflitos entre si temperam o caótico cenário.

            A história tem como protagonistas um homem, Alain, obcecado pela perspectiva de um apocalipse, sua esposa e a filhinha, envolvidos em metódicos aprendizados para fugas, isolamentos e acondicionamento de víveres. A neurose pela hipótese apocalíptica e a influência de um youtubber que dirige um acampamento de sobrevivência isolado nas florestas nevadas fazem com que pai, esposa e filha acordem durante as madrugadas para, vestindo-se às pressas, empreenderem fugas simulando emergência.

A família resolve então refugiar-se no acampamento liderado pelo youtubber, que dá ao grupo instalado no local instruções sobre as diversas técnicas em defesa da vida. E a partir dessa convivência os conflitos afloram liberando frustrações, temores, paranóias, preconceitos, generosidades, egoísmos e outras contradições. Tudo isso é a receita de uma explosão de violência, mantendo em evidência o pano de fundo que é motivadoir da trama: os nichos pessoais da consciência e dos princípios de cada um em oposição à definhante sensatez e ao caráter de cooperação e de coletivismo que d veria imperar numa luta cujo interesse comum devria ser a vida de todos.

Segundo o crítico André Zuliani, é o instinto de sobrevivência que provoca a grande virada do filme. “Pensando apenas em como continuar com a vida após uma calamidade, a sacada no roteiro do trio Charles DionneNicolas Krief Patrice Laliberté [diretores do filme] é mostrar que a ameaça faz parte da nossa natureza quando nos encontramos em situações de conflito. Mesmo que Alain tenha construído uma fortaleza pessoal para viver, o ser humano ainda encontra motivos para brigar – estando ele certo ou errado

Deixe seu Comentário