A grande e 'única notícia' importante do dia 16 de novembro de 1889 foi dada pela Província de São Paulo numa edição que fugia ao padrão corriqueiro do jornal. Na primeira página, toda branca, apenas três palavras anunciavam o começo de uma nova era: "Viva a República!", dizia a manchete.
A edição histórica registrava alguns telegramas vindos da Corte que se desfazia e a proclamação dos chefes do movimento em São Paulo. "Glorioso centenário da grande revolução Proclamação da República", era o título da notícia.
"Recebemos hontem o seguinte telegramma: Foi proclamada a República no Brazil. Consta que o governo provisório será organisado com o general Deodoro e Quintino Bocayuva". (...) Nunca uma republica foi proclamada com tanto brilhantismo e em tanta paz".
Entenda o processo que levou a Proclamação da República
Entre 1824 e 1889, o Brasil teve uma constituição monárquica. A opção pela monarquia garantiu a unidade territorial do país, além de ter inspirado certa confiança nos países europeus, todos constitucionalmente monárquicos. Nas últimas décadas do século 19, o regime monárquico passou a ser seriamente contestado devido a questões sociais, econômicas, religiosas e militares. Além disso, ideologias como o republicanismo e o positivismo, gradualmente mais populares a partir de 1870, questionavam a própria natureza do regime, associado ao atraso e ao obscurantismo.
Uma das questões que mais enfraqueceu o regime perante seus críticos foi a chamada “questão servil”, referente à abolição da escravidão. Tradicionalmente escravocrata, o Brasil passou a ser pressionado pela Inglaterra a abolir o comércio negreiro já na primeira metade do século 19. No entanto, o comércio de escravos era muito lucrativo e a mão de obra escrava era essencial para a economia brasileira, baseada em latifúndios exportadores de cana-de-açúcar. Por conseguinte, o país retardou o quanto pode o processo de abolição da escravidão, que só foi plenamente realizada em 1888, por meio da Lei Áurea. Assinada pela princesa Isabel, a lei acabava com uma das maiores fontes de lucro dos senhores de escravos sem nenhuma forma de indenização, o que fez com que a monarquia perdesse apoio entre sua principal base de sustentação, os latifundiários.
A monarquia também se indispôs com a Igreja Católica e o Exército. Na década de 1870, o imperador mandou punir os bispos que, desobedecendo o beneplácito régio, combatiam religiosos ligados à maçonaria. Na mesma época, militares começaram a reivindicar direitos e a criticar o regime e seus representantes conservadores devido a punições e tratamentos que consideravam injustos. Sob a liderança de Benjamin Constant e Deodoro da Fonseca, os oficiais se articularam em um clube para representar sua categoria e combater medidas impopulares. A “questão militar” (como era apelidada) também foi agravada pela influência, entre os militares, da ideologia positivista que, entre outras coisas, representava a monarquia como uma etapa civilizacional a ser superada em nome do progresso.
Os republicanismo brasileiro adquiriu relevo apenas na década de 1870. Os republicanos radicais associavam o regime à ampliação da democracia, enquanto os oligárquicos o encaravam como um atalho para o federalismo e uma maior autonomia provincial. Nos últimos da monarquia, os republicanos instrumentalizaram a "questão militar" e começaram a conspirar ao lado do exército para depor o rei.
Outros fatores que levaram à proclamação da República eram um considerável repúdio ao francês Conde D'Eu, marido da princesa (e sucessora ao trono) Isabel, e uma crise econômica inflacionária pela qual passava o país nas últimas décadas do século 19. No final da década de 1880, a conspiração contra o regime já estava articulada. Um evento, contudo, precipitou a deflagração do movimento: no dia 14 de novembro de 1889, o Major Sólon Ribeiro espalhou boatos de que o governo pretendia prender Deodoro da Fonseca e Benjamim Constant, líderes da conspiração. Na madrugada do dia 15, o marechal Deodoro liderou alguns regimentos e cercou o Ministério da Guerra. As forças legalistas, sob a liderança de Floriano Peixoto, logo aderiram aos rebeldes. Os ministros do rei foram presos e o ministro da marinha foi ferido a bala ao tentar reagir. O imperador D. Pedro II foi cercado no Paço da Cidade enquanto fugia ao ser avisado do golpe. Foi intimado a deixar o país, que passou a ser governado pelo Governo Provisório da República, encabeçado pelo marechal.
A República estabeleceu eleições para o chefe do executivo, ainda que restritas, e realizou a separação entre Igreja e Estado. Uma nova constituição foi promulgada no dia 24 de fevereiro de 1891, e o Marechal Deodoro foi eleito, pelo voto indireto, presidente da República.
Já o jornalista, escritor e tradutor Eduardo Bueno tem um ponto de vista diferente sobre o movimento de Proclamação da República.
"Uma cena estranha antecedeu a Proclamação da República em 15 de novembro de 1889. Na madrugada daquele dia, Marechal Deodoro da Fonseca, doente e de pijamas, deixou seu quarto às pressas para liderar a derrubada do Visconde do Ouro Preto do poder. Deodoro garantiu que a República estava feita, mas não era verdade, já que ele mesmo a proclamou provisoriamente." Assista!
Clique aqui para ouvir o Hino da Proclamação da República. Letra de: Medeiros e Albuquerque
Música de: Leopoldo Augusto Miguez
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Com informações do Acervo Estado e do Canal The History no YouTube.