No dia 6 de novembro de 1964, o Brasil perdia Anita Catarina Malfatti, pintora, desenhista e professora. Nascida em 2 de dezembro de 1889, em São Paulo, ela tinha uma atrofia no braço e na mão direita. Apesar de ter feito um tratamento na Itália, aos três anos de idade, para tentar recuperar os movimentos, o resultados não foram muito animadores. A solução foi desenvolver os movimentos da mão esquerda.
Mais tarde, determinada a trabalhar como pintora, ela foi ajudada pelo padrinho, o engenheiro Jorge Krug, que financiou seus estudos na Alemanha. Em Berlim, em 1910, a arte alemã passava pelo modernismo, com exposições expressionistas, e Anita entrou em contato com a vanguarda europeia. Por conta da proximidade da Guerra, resolveu retornar ao Brasil. Então com 24 anos, em São Paulo, Anita mostrava suas obras pouco acadêmicas e, por isso, era incompreendida.
Foi mais uma vez ao exterior, novamente financiada por seu tio Jorge Krug. Desta vez, viajou aos Estados Unidos, onde estudou na tradicional Art Student s League, em Nova York. Anita, contudo, desistiu dos estudos após três meses, pois considerou a instituição muito conservadora. Em 1916, Anita retornou ao Brasil e, ao mostrar seus quadros para a família, as reações não foram nada boas. Eles consideraram sua pintura grotesca e ficaram desapontados com a pintora, incluindo seu tio Jorge Krug. Sem perder a convicção, Anita montou uma exposição que vendeu oito quadros. Contudo, uma forte crítica de Monteiro Lobato sobre sua pintura, publicada no jornal O Estado de São Paulo, abalou a pintora. Seus quadros, vendidos no primeiro dia, foram devolvidos e outros quase destruídos. Todos os críticos estavam contra Anita.
A única voz que se levantou a seu favor foi a de Oswald de Andrade. Sua consagração viria com a Semana da Arte Moderna, em 1922, que agitou São Paulo. Após a exposição, recebeu uma bolsa e foi para Paris, onde viveria o seu mais longo período fora do Brasil. Na Europa, algumas obras suas ganharam destaque internacional como Interior de Mônaco, A dama de azul, Interior de igreja e A mulher do Pará. No final de setembro de 1928, retornou ao Brasil e encontrou um cenário artístico bem diferente de quando deixara o país cinco anos antes.
O grupo inicial de modernistas havia evoluído muito, com novos adeptos e novos movimentos. No ano seguinte, promoveu sua quarta mostra individual e depois, até 1932, dedicou-se ao ensino escolar. No início dos anos 40, depois da morte de Mário de Andrade ? seu grande amigo - e da mãe, Dona Betty, ela finalmente encontrou sua paz artística e passou a viver recolhida na sua chácara em Diadema. Na sua fase final, em seu período de reclusão, afirmou que estava pintando à vontade e que fazia ?arte popular brasileira". Anita morreu na cidade de São Paulo, aos 75 anos.