Outubro Rosa: ALEMS na defesa da vida e da saúde das mulheres

05 OUT 2020Por Osvaldo Júnior08h00
Arte: Luciana Kawassaki

A vida acontece depois da vidraça, onde não há espectadores, mas atores. Essa foi a segunda importante descoberta da aposentada Anésia dos Santos, 64 anos. A primeira foi a do diagnóstico do câncer de mama, doença que mata uma mulher a cada 30 minutos no Brasil. Anésia venceu o câncer e, como prêmio, além da própria vida, conheceu o privilégio de se tornar avó.

Na sua luta pela vida, Anésia teve, entre os percalços, a demora para ser diagnosticada com a doença. “Em 2014, após vários desmaios, comecei a emagrecer, fui a vários médicos para descobrir a causa, fiz mamografia e nada foi descoberto”, lembra. Sofrimento como o de Anésia é o que se busca evitar através da campanha realizada neste mês, o Outubro Rosa.  

Paulo Corrêa: "É importante a atenção ao diagnóstico precoce"

A maior rapidez no diagnóstico está entre os principais objetivos da campanha, realizada mundialmente. Mato Grosso do Sul se integrou, efetivamente, a essa ação em 2014, quando os deputados estaduais aprovaram o projeto que se tornou a Lei 4.541.

Ao falar sobre a campanha, o deputado Paulo Corrêa (PSDB), presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS), enfatiza a importância do diagnóstico precoce. “Essa campanha, que é mundial, cumpre um papel importantíssimo ao chamar a atenção da sociedade sobre o diagnóstico precoce do câncer de mama. Algumas pesquisas apontam que as chances de cura passam de 90% quando os casos são identificados no estágio inicial da doença”, afirma o parlamentar.

Zé Teixeira: "Descoberto cedo, o câncer pode ser revertido"

As ações de enfrentamento ao câncer de mama passam pela imprescindibilidade do direito ao atendimento digno, conforme nota o presidente da Casa de Leis. “Ações de conscientização e prevenção são tão importantes quanto trabalhar por direitos e para que mais mulheres tenham acesso ao diagnóstico, atendimento médico e todo suporte necessário”, defende o deputado. E acrescenta: “Esta é uma das principais bandeiras desta Casa: assegurar atendimento digno e de qualidade a toda população”.

Um dos autores da Lei 4.541/2014, o deputado Zé Teixeira (DEM), 1º secretário da ALEMS, reforça a necessidade do diagnóstico precoce. “Oficializamos a campanha no Estado para servir como um alerta, porque hoje sabemos que, se for descoberto cedo, o câncer de mama pode ser revertido”, observa o parlamentar. Além de participar da elaboração da lei, Zé Teixeira atua, de modo intenso, através de panfletagens nas ruas e outras ações, na divulgação do movimento mundial chamado #OutubroRosa, que visa à conscientização sobre a prevenção do câncer de mama.

Ação da ALEMS realizada em outubro do ano passado

A lei e seus objetivos: prevenção e diagnóstico precoce

Há seis anos, os deputados da ALEMS aprovaram Projeto de Lei 183/2013, que se tornou a Lei 4.541/2014. Além de Zé Teixeira, a proposta tem como autoras as ex-deputadas Dione Hashioka e Mara Caseiro.

De acordo com a lei, a campanha do Outubro Rosa objetiva a promoção da conscientização sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama, integração de ações de entidades públicas e privadas e a oportunização de trabalhos com a comunidade realizados por acadêmicos de graduação e voluntários.

Campanha em promoção da vida

Doação de lenços em 2018; ação ocorreu também em outros anos

 A saúde é pauta constante na ALEMS. Em relação específica ao câncer de mama, os parlamentares aprovaram, em 2019, a Lei 5.332/2019, de autoria do deputado Barbosinha (DEM), que obriga hospitais, clínicas e consultórios a informar aos pacientes em tratamento de câncer que a reconstrução da mama é feita gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A lei determina que material informativo sobre este assunto deve ser afixado em locais de fácil visualização.

Além do trabalho estritamente parlamentar, a ALEMS também realiza campanhas, como arrecadação e doação de lenços e atendimento às servidoras da Casa. Em outubro do ano passado, a ação, proposta pelo deputado Felipe Orro (PSDB), atendeu 63 mulheres, da quais 35 passaram pela triagem de colo do útero e 28 pacientes na triagem de mama.

Arte: Luciana Kawassaki

A cada 30 minutos, uma mulher morre com câncer de mama

Essa atenção é fundamental, considerando a gravidade da doença, conforme mostram levantamentos do Instituto Nacional de Câncer (Inca). Em 2018, último ano com dados de óbitos, morreram 17.572 mulheres com câncer de mama no Brasil. É o câncer que mais mata mulheres no país: a quantidade de 2018 representou 16,4% do total de mortes de brasileiras causadas por algum tipo de câncer.

As 17.572 mortes correspondem à média diária de 48 óbitos. Em maior detalhamento, a cada 30 minutos, uma mulher morre com câncer de mama no Brasil.

A estimativa do Inca é que em 2020, 66.280 mulheres sejam diagnosticadas com câncer de mama em todo o país. Em Mato Grosso do Sul, seriam 850 casos novos neste ano. Isso significa que, no Estado, todos os dias, duas mulheres, em média, passam por semelhante experiência de dor vivida por Anésia dos Santos.

“A gente aprende a abrir a vidraça e a olhar a vida de verdade”, diz Anésia

Em outubro de 2014, a Assembleia Legislativa recebeu iluminação rosa e Anésia, o diagnóstico positivo de câncer de mama. Era a oficialização, através da Lei 4.541, da adesão de Mato Grosso do Sul à campanha de prevenção à doença. Com a iluminação especial, a Casa de Leis chamava atenção da sociedade à necessidade de maior rapidez do diagnóstico do câncer de mama. Para Anésia, era o ingresso em nova etapa da vida ou, mais precisamente, da vida em sua nova etapa. Com a confirmação da doença, ela sentiu a angústia da demora dar lugar à certeza da luta pela vida.

Anésia dos Santos: "Descobri o que é ser feliz"

“Desde a descoberta de que estamos com câncer até fazermos o tratamento e nos darmos conta de que a nossa vida mudou totalmente, é preciso tempo”, partilha Anésia sua experiência.

A demora no diagnóstico a angustiava, mas ela persistia. “Como não perdi a esperança de saber o que eu realmente tinha, fui a vários outros médicos. Fui parar no Hospital de Câncer de Barretos, aqui em Campo Grande. Lá, no primeiro contato com a médica que me atendeu, ao examinar, ela percebeu algo errado na mama”, lembra-se.

No processo todo, que Anésia prefere chamar de luta pela vida e não de luta contra o câncer, houve muito sofrimento, mas também muito carinho de amigos e familiares. Ela se lembra das dores da quimioterapia, da radioterapia e da imunoterapia, da baixa imunidade, das infecções, dos sangramentos e das corridas, de madrugada, ao hospital. Mas também se recorda dos abraços, dos apoios, das orações, do cuidado de amigas que lhe faziam sopinhas, chazinhos, lhe davam remédios e a maior das atenções: a presença.

Assembleia Legislativa com iluminação especial em 2014

Foi assim que Anésia descobriu a vida depois da vidraça. “A gente aprende a olhar a vida, não através da vidraça, mas a abrir a vidraça e a olhar a vida de verdade”, ensina. Hoje, a bacharel em Direito aposentada tem uma atividade muito melhor: ser avó da Sofia. A neta, com nome de “sabedoria”, aprenderá com a história da avó que não há outro sentido na vida que não seja viver.

Abaixo, o depoimento de Anésia na íntegra:

Desde a descoberta de que estamos com câncer até fazer o tratamento e nos darmos conta de que a nossa vida mudou totalmente é preciso tempo. Foi em 2014, após vários desmaios, comecei a emagrecer, fui a vários médicos para descobrir a causa, fiz mamografia e nada foi descoberto.

Mas, como não perdi a esperança de saber o que eu realmente tinha, fui a vários outros médicos. Fui parar no Hospital de Câncer de Barretos, aqui em Campo Grande. Lá, no primeiro contato com a médica que me atendeu, ao examinar, ela percebeu algo errado na mama.

Fiz biópsia e já me preparei psicologicamente. A psicóloga do hospital falou comigo sobre o que eu faria se constatasse o câncer de mama. Em outubro de 2014, veio o diagnóstico do tumor e que eu precisaria de uma cirurgia urgente. Fiquei um mês em preparação com acompanhamento psicológico.

Após novos exames, foi confirmada a necessidade de cirurgia. Até lá, fui me apegando com a espiritualidade, orações e fui me desapegando de coisas. Sabia que o tratamento seria longo. Fiz a cirurgia em janeiro de 2015.

Fiz quimioterapia e não é nada fácil. Os efeitos colaterais são terríveis. Fiz radioterapia, depois um ano de imunoterapia - um tratamento que é muito caro e, infelizmente, não ofertado pelo SUS naquela época. Longo processo, muita renúncia, dias de muitas dores e sofrimento mesmo.

Quase não vemos a família. Preferimos, muitas vezes, ficar sozinhos. Os amigos queridos ficaram do meu lado e deram um novo sentido à minha vida. A gente aprende a olhar a vida, não através da vidraça, mas a abrir a vidraça e a olhar a vida de verdade.

Descobri que, mesmo a gente estando em grandes dificuldades, nós podemos ver a vida de uma forma tão maravilhosa que isso auxilia na nossa cura, porque curamos a alma. Se o seu corpo está doente e a alma adoece junto, então tudo fica ainda mais complicado.

A gente, às vezes, usa essas palavras de “lutar contra o câncer”, mas eu não lutei contra o câncer. Eu lutei em favor da vida, do amor, do despertamento, do livramento. Pedi muito a Deus, a Jesus, que me desse forças para eu vencer essa etapa, porque eu estava para receber uma netinha, a Sofia, e eu queria conhecê-la, a minha primeira netinha.

E quando eu estava na metade do tratamento, aquele “pacotinho” mais lindo do mundo veio na minha casa. Abri o portão e foi uma surpresa maravilhosa!

Então, tudo isso faz com que a gente viva. Viver é isso. Não é lutar contra nada. Mas é viver em favor das coisas maravilhosas. Em favor da saúde. É uma luta diária do bem. Manter a tranquilidade mesmo sentindo dores físicas terríveis.

Eu tive muitas infecções, imunidade baixa, voltei ao hospital várias vezes, de madrugada. Tive sangramentos, enfim. E ainda precisei fazer nova cirurgia na mama.

Quando termina o tratamento, vêm novas lutas pela vida e bem-estar.

Hoje, depois de todo esse tempo, eu descobri o que é ser feliz. A felicidade nossa é quando a gente vence essa etapa. Atravessamos o deserto, com choro, abraços e alegria, mas o mais importante de tudo foi que tive apoio de amigos queridos, recebi orações, muito mimo. Amigas que iam em casa fazer sopinha, medicamentos, chazinhos, carinhos. Essas bênçãos proporcionaram a minha cura e sou muito grata por isso.

Todo o processo é muito sofrido sim e, como disse um médico, são aplicadas doses cavalares de veneno no corpo e se tivermos uma boa reação e ação melhor ainda, transformamos tudo aquilo em medicamento. O melhor de todos os medicamentos foi conhecer o verdadeiro amor.

A doença mudou totalmente a minha forma de ver a vida. Agora, meus desejos, de roupas, viagens, etc, são mais leves e tranquilos. Uma vida além do material. Não entrar em pânico quando as dificuldades chegam.

Continuo trabalhando e estudando, mas vejo a vida hoje sob novo ângulo. A gente fica mais alegre, grata, perdoa mais e não deixamos que picuinhas tomem conta dos pensamentos. Ficamos mais conectados com o bem, a natureza e o coração, mais amorosamente. Podemos conviver melhor com as pessoas e valorizamos quem quer e precisa da nossa companhia.

Quando alguém descobre que está com câncer, eu procuro estar por perto. Primeiramente, a gente pergunta: “por que comigo?”, “vou morrer?”. Eu digo: “Não. Agora você vai começar a viver. Acalma o seu coração. Abrace os seus familiares, as pessoas que estão ao seu lado e, principalmente, confie. Nos médicos que vão cuidar de você, nas pessoas que estarão do teu lado. Mas uma coisa é muito importante lembrar: você não é vítima. Não se sinta vítima. E nem diga também que está tudo bem. Não é o real. É o momento de olhar pra você mesma e dizer: 'Agora, vou cuidar de mim, com muito amor e esperança. Vou cuidar do meu corpo, do meu espírito, da minha cabeça e serei vencedora'. Seja você mesma. Se tiver que sair careca na rua, saia. Se tiver que usar lenço ou chapéu, enfim. Escolha aquilo que melhor vai satisfazer você e se cuide”.

E para as pessoas que estão próximas de alguém com diagnóstico de câncer, querem ajudar e nem sempre sabem como, eu só peço pra vocês: evitem de fazer tantas perguntas, ficar em cima, questionando o que queremos comer. Depois de uma químio o que menos queremos é comer.

Apenas fiquem ao lado. A pessoa terá o momento dela de dizer algo a você, que quer ajudar. Pode passar até uma semana, mas a pessoa vai despertar e interagir no momento certo.

(Colaborou Fabiana Silvestre).

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