Nesta entrevista exclusiva, conversamos com a renomada advogada Dra. Marcela Rasslan. A Dra. Marcela abordou temas urgentes, como a desigualdade de gênero e a violência contra a mulher, que continuam a ser desafios significativos na sociedade brasileira, mesmo com avanços legislativos recentes.
* Desigualdade de Gênero: Um Problema Estrutural
A Dra. Marcela destacou que a desigualdade de gênero permeia todos os aspectos da vida, desde o ambiente escolar até o local de trabalho e o âmbito familiar. "Essa desigualdade, infelizmente, culmina em violência, seja psicológica, física ou, nos casos mais extremos, no feminicídio", explicou. Apesar dos debates e das leis criadas para proteger as mulheres, a luta por igualdade e respeito ainda está longe de terminar.
Ela ressaltou que, embora as mulheres sejam maioria em termos populacionais, ainda são tratadas como minoria devido à falta de relevância social e respeito. "As leis de proteção existem justamente porque a mulher ainda não é vista como igual. Isso não é 'mimimi', é um direito básico de igualdade e respeito", afirmou.
* Avanços Legislativos e Desafios Persistentes
A Dra. Marcela citou a *Lei de Igualdade Salarial*, instituída em 2023, como um marco importante na luta pela equidade de gênero. A lei garante que homens e mulheres recebam salários iguais ao exercerem a mesma função e exige transparência das empresas, que agora são fiscalizadas pelo Ministério do Trabalho e pelo Ministério Público do Trabalho. "Essa lei não só normatiza a igualdade salarial, mas também fomenta a ascensão das mulheres a cargos de liderança", explicou.
No entanto, a advogada alertou que a desigualdade no mercado de trabalho é apenas um reflexo de uma problemática maior, que começa na família e se estende para toda a sociedade. "A desigualdade no trabalho, a falta de oportunidades de progressão na carreira e a disparidade salarial são formas de violência que, infelizmente, podem levar a consequências mais graves, como o feminicídio", disse.
* Feminicídio: Um Problema Alarmante
A Dra. Marcela apresentou dados alarmantes sobre a violência contra a mulher no Brasil. Em 2024, foram registrados *1.387 casos de feminicídio*, segundo o Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública. "Esses números mostram que a luta pela igualdade de gênero e pelo fim da violência contra a mulher não é desnecessária, como alguns insistem em afirmar", destacou.
Ela também mencionou o “painel de monitoramento da violência contra a mulher” do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, que registrou quase 600 ocorrências em apenas 10 dias de março de 2025. "Esses casos incluem violência psicológica, física, patrimonial, sexual e moral, todas cobertas pela Lei Maria da Penha", explicou. A advogada enfatizou a importância das medidas protetivas, como o afastamento do agressor do lar e a retirada de porte de arma, mas lembrou que essas medidas só são aplicadas se a vítima registrar a ocorrência.
* Mato Grosso do Sul: Um Estado em Alerta
O estado de Mato Grosso do Sul é o segundo no ranking de feminicídios no Brasil, perdendo apenas para o Mato Grosso. Em 2024, foram registrados *35 casos de feminicídio* no estado, com uma taxa de 1,27 assassinatos a cada 100 mil habitantes. "É um número absurdo, especialmente considerando que ainda estamos no início de 2025", lamentou a Dra. Marcela.
Ela destacou que o governo do estado está tomando medidas para enfrentar o problema, como a criação de um grupo de trabalho para agilizar a análise de mais de seis mil boletins de ocorrência que aguardam abertura de inquérito. Além disso, a Polícia Militar está sendo treinada para oferecer atendimento humanizado e garantir a efetividade das medidas protetivas.
* Denúncias e Ações Coletivas
A Dra. Marcela também ressaltou a importância das denúncias, que podem ser feitas não apenas pelas vítimas, mas também por terceiros. "Após o registro, a ação é conduzida pelo Ministério Público, o que garante que a vítima não precise enfrentar sozinha o processo de denúncia", explicou. Ela ainda lembrou que, desde 2020, as medidas protetivas podem ser solicitadas online, o que facilita o acesso das mulheres à justiça, especialmente em situações de isolamento, como durante a pandemia.
* Educação e Mudança Cultural
A advogada enfatizou que, além das medidas legais, é essencial promover uma mudança cultural. "Precisamos educar nossos filhos, especialmente os meninos, para que cresçam com respeito à igualdade de gênero e ao próximo", disse. Ela lembrou que a maioria dos agressores são pessoas próximas às vítimas, como companheiros, ex-companheiros ou familiares. "A violência contra a mulher não é cometida por estranhos, mas por aqueles que deveriam protegê-las", alertou.
* Conclusão: A Luta Continua
A Dra. Marcela Rasslan finalizou a entrevista com um apelo à sociedade: "Nós não queremos estar aqui discutindo esses temas, mas é necessário. Os números mostram que a violência contra a mulher só aumenta, mesmo com leis mais duras. Precisamos de ações concretas, campanhas de conscientização e, acima de tudo, respeito. Não queremos mais fazer parte desse ranking triste e vergonhoso."
A luta pela igualdade de gênero e pelo fim da violência contra a mulher continua, e vozes como a da Dra. Marcela Rasslan são essenciais para manter o debate vivo e promover mudanças reais na sociedade.