Porque abraçar o tempo.

01 DEZ 2017Por Nelson Feitosa16h39

            Enquanto o tempo avança, e com ele a vida, as pessoas acumulam experiências. Da infância das primeiras percepções, das primeiras palavras e das primeiras escolhas, até o crepúsculo da existência, somos todos a soma do que fazemos, do que pensamos, do que conhecemos. Somos resultados do “sim” e do “não”, do avançar e do recuar, do aprender ou do ignorar.

            Tudo isso nos serve de lições que precisamos aprender todos os dias. Para errar ou para acertar nas nossas decisões. Assim, quando estamos diante de imagens do que vivemos ou passamos ontem, entramos num momento de introspecção que nos traz a reflexão para o hoje e para o amanhã do que queremos.

            E não é outra a circunstância emocional e reflexiva que propõe a foto ilustrativa deste artigo. O ano: 1992. O ambiente: Salão Paroquial de Sidrolândia. O fato: visita do governador Pedro Pedrossian. Eu tinha apenas 22 anos e era vice-prefeito do saudoso João Lemes. Na foto, participo de uma conversa com Pedrossian, o deputado federal Nelson Trad e o jornalista e homem da comunicação Francisco de Lagos.

            Já lá se vão 25 anos. Pode ser muito ou pode ser pouco, depende do tempo que cada um entende ser suficiente para aprender o que pode ou o que quer. No meu caso, todo tempo é tempo de aprender. Cada instante vivido traz um tipo de conhecimento. A vida passa para todos e é esta a realidade que a torna fascinante, porque enquanto ela está respirando podemos extrair dela o aprendizado que nos faz reconhecer-nos no que temos de virtude e o que temos de defeito.

            Dos quatro protagonistas desta fotografia eu sou o único que permanece vivo para contar a história. Amanhã serão nossos filhos, as próximas gerações, que deverão desenhar, com seus próprios traços, o cenário que seus pais e avós construíram e deixaram como legado para orientar valores e fomentar vocações, sem interferir na liberdade de escolhas, direito exclusivo e inerente a cada indivíduo.

            Aquele tempo dessa fotografia passou. Pessoas e coisas são pretéritas. Enquanto viveram, de uma forma ou de outra Pedrossian, Trad e Lagos tiveram dias ou ciclos de monopólio ou de centralidade na política e nas comunicações. A mesa desse encontro era da Cordil, conveniência pioneira que era também uma espécie de monopolizadora neste segmento comercial. Pessoas e coisas passaram, mas deixaram seu legado.

            Uma fotografia antiga provoca mais que o sentimento nostálgico. Vai além disso. É uma incursão que nos impõe olhar para dentro do mais fundo de nosso íntimo, exercer conosco a mais rigorosa autocrítica, defrontarmo-nos com nossos erros e, mais que isso, assumir corajosamente aqueles que por fraqueza ou comodismo continuamos a reprisar.

Uma fotografia antiga é a reflexão sensitiva e esclarecedora do que temos de humanos, de seres capazes de aprender com os erros, de não agirem como se fossem eternos, únicos, insubstituíveis. Todos os dias que já vivemos são fotografias que ao longo do tempo nos revelam se fomos ou se somos capazes de aprender o que o tempo nos propõe a ensinar no contexto de nossas experiências.

O tempo não se afasta de nós. É o contrário: nós é que não o abraçamos. Mas, se aprendemos suas lições, descobriremos que só abraçando o tempo estaremos bebendo da fonte da juventude. Porque este aprendizado é a sede maior de nosso cérebro e do nosso instinto de humanos.

Deixe seu Comentário

Leia Também