Campo Grande (MS) – Dados do dossiê da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), publicado nesta quarta-feira (29.01), em razão do Dia Nacional da Visibilidade Trans, apontam que o Brasil continua a ser o país que mais mata travestis e transexuais.
De acordo com o documento, 124 pessoas trans foram assassinadas em 2019. O México, que está em segundo lugar no ranking global, reportou metade do número de homicídios. Mato Grosso do Sul ocupa a vigésima primeira posição no ranking dos estados brasileiros pela taxa de assassinatos de pessoas trans a cada 100 mil habitantes.
“Infelizmente os números ainda são alarmantes, as pessoas trans são vulnerabilizadas e marginalizadas, a violência que sofrem é devido a discriminação de gênero. Precisamos aprender a respeitar o próximo, mudar nosso comportamento quando achamos que determinado fato ou pessoa não se enquadra nos padrões impostos pela sociedade. Precisamos evoluir e cada dia mais reforçarmos nossas políticas públicas para que sejam eficientes e eficazes para diminuir esses índices”, explica o subsecretário Estadual de Políticas Públicas LGBT, Frank Rossatte.
Apesar dos dados alarmantes e das muitas subnotificações de casos de violência contra pessoas trans, histórias se sobressaem e mostram que é possível garantir direitos e ter o respeito da sociedade. É o caso do jovem Estevan Silva, de 29 anos, o primeiro homem trans do Brasil, com documentação reconhecida pelo sistema da Polícia Federal.
“Eu iniciei minha transição no ano de 2016, passei por todo o processo desde o nome social, cirurgia, reposição hormonal, retificação do nome e uma grande vitória foi o meu reconhecimento em 2019 como o primeiro vigilante trans do Brasil”.
Nascido em um lar cristão e tipicamente tradicional, Estevan conta que sempre quis ser igual aos seus irmãos, porém até o momento de saber sobre a transexualidade, assumiu-se como lésbica, tendo o apoio da família. “Eu sempre queria me vestir como os meus irmãos, quando meus seios começaram a crescer eu me escondia, aquela não era a minha identidade. Na época eu vi uma matéria com o Tarso Brant no início de sua transição e me identifiquei, ali eu soube quem eu de fato era, meus pais no fundo sempre souberam e como nossa relação sempre foi muito boa eles me apoiaram, me incentivaram a correr atrás da minha verdadeira identidade”, ressalta.
Quando o assunto é mercado de trabalho as pessoas transexuais e travestis dependem de iniciativas pontuais por parte das empresas, para garantirem seus espaços. No caso de Estevan ele assegura que encontrou empresários comprometidos com o tema e que avaliam o funcionário pelo seu rendimento profissional e não pelo gênero. “Meu primeiro emprego em uma empresa de merchandising, no início da transição, eles me ajudaram a crescer, me respeitaram, acreditaram em mim, afinal pessoas trans também são capazes”.
Vinculado a Subsecretaria Estadual de Políticas Públicas LGBT, o Centro de Referência em Direitos Humanos, Prevenção e Combate a Homofobia (Centrho), oferece serviços de atendimento psicossocial e jurídico ao público LGBT, dentre eles toda a orientação no que tange o processo de transição de gênero e retificação do nome junto aos cartórios.
“Eu busquei orientação no Centrho, lá eles me orientaram sobre todo o processo, me ajudaram muito, ajudaram a mudar a minha vida”, observa Estevan.
O atendimento do Centrho é gratuito e o local funciona de segunda a sexta-feira, das 07h30 às 17h30, junto a Subsecretaria LGBT. “Nosso objetivo é levar orientação e informação. Sabemos que na maioria das vezes somos o suporte de muitas pessoas LGBTs. Sendo assim, entendemos a importância do nosso trabalho em nível estadual. Por isso buscamos contato direto com os municípios como, por exemplo, na emissão da carteira de identificação por nome social e na qualificação dos servidores”, conclui o subsecretário Estadual de Políticas Públicas LGBT, Frank Rossatte.
Evento
Em alusão ao dia da visibilidade trans, instituições governamentais e sociedade civil realizarão uma feira cultural, roda de conversa e entrega do Prêmio de Direitos Humanos e Cidadania, as 18h no Centro Cultural José Octávio Guizzo.
Dia da Visibilidade Trans
O Dia da Visibilidade Trans foi criado em 2004, quando 27 pessoas trans foram ao Congresso Nacional, em Brasília, em uma campanha elaborada por lideranças do movimento de pessoas trans em parceria com o Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde.
Texto: Jaqueline Hahn Tente – Secretaria Especial de Cidadania (Secid)
Foto: Arquivo Subs LGBT