Cientistas descobrem como fazer cérebro 'esquecer' a fome

A pesquisa sugere que o cérebro tem mecanismos elaborados para ajustar o apetite

01 ABR 2019Por Extra00h35

A comida é necessária para a sobrevivência, e, por isso, os animais desenvolveram sistemas fisiológicos que os atraem para os alimentos e os mantêm repetindo o ato de se alimentar. Agora, uma pesquisa da Universidade Rockefeller, em Nova York, revelou a existência de células cerebrais com o efeito oposto: reduzir o impulso de um animal para comer.

O estudo mostra que essas células também desempenham um papel na regulação da memória e fazem parte de um circuito cerebral maior que promove uma alimentação "equilibrada".

Com base nesta pesquisa, a brasileira Estefania Azevedo, pós-doutoranda na universidade, identificou recentemente um grupo de células do hipocampo, conhecidas como neurônios hD2R, que se tornam ativas sempre que um camundongo é alimentado. Colaborando com Paul Greengard e Jia Cheng, os pesquisadores também descobriram que quando esses neurônios eram estimulados, os ratos comiam menos; e quando eles foram silenciados, comeram mais. Em suma, os neurônios hD2R respondem à presença de alimentos, impedindo os animais de ingerirem esse alimento.

Sobre as descobertas, Azevedo diz que, embora os animais geralmente se beneficiem de comer os alimentos diante deles, em alguns casos é útil exercitar a contenção. Por exemplo, se um animal comeu recentemente, procurar por outra refeição é desnecessário e arriscado, já que isso pode expor os animais a predadores. Os neurônios recém-descobertos, ao que parece, ajudam os animais a pararem de se alimentar quando não mais lhes convém.

“Essas células impedem que um animal coma demais”, disse a pesquisadora ao site da universidade. "Eles parecem tornar a alimentação menos recompensadora e, nesse sentido, estão ajustando a relação do animal com a comida".

Desfazendo a memória

Na natureza, para comer, é preciso saber onde encontrar comida. E os cérebros são bons em lembrar a localização das refeições anteriores: quando um animal encontra alimento em um local específico, faz uma conexão mental entre o local e a comida. Para testar como as células hD2R podem afetar essas conexões, Friedman e Azevedo estimularam os neurônios à medida que os ratos vagavam em torno de um ambiente repleto de alimentos.

Eles descobriram que essa intervenção fez com que os camundongos tivessem menos probabilidade de retornar à área onde a comida estava, o que sugere que a ativação do hDR2, de alguma forma, diminui as memórias relacionadas à refeição.

Outras experiências mostraram que os neurônios hD2R recebem entrada do córtex entorrinal, que processa informações sensoriais, e enviam a saída para o septo, que está envolvido na alimentação. Os pesquisadores que identificar esse circuito cerebral, concluíram que os neurônios servem como um ponto de controle regulatório entre a percepção de alimentos e a ingestão deles.

Em conjunto com análises de outros circuitos neurais, a pesquisa sugere que o cérebro tem mecanismos elaborados para ajustar o apetite: enquanto alguns sistemas ajudam um animal a lembrar e encontrar comida, outros restringem a ingestão de alimentos.

 

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